quinta-feira, dezembro 22, 2005

Consumismo? Qual Consumismo?


Fotografia de Brian Ulrich tirada em Chicago, Illinois. O Clube de Criativos deseja a todos um Natal cheio de prendas.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Fábula do Pai Natal (com direito a moral e tudo)

O Pai Natal, todos os anos é quem mais sofre com o Natal, em Agosto já está a receber telefonemas de accounts de agências de publicidade, design, marketing relacional e brindes para assinar contratos com as mais variadas empresas e marcas. A sua imagem é dispersa e pendurada por todo o lado: cartões de Natal, anúncios, bonecos de peluche, figuras de chocolate. E depois tem de estar presente em todos os centros comerciais que o querem com criancinhas ao colo e aguentar com todos aqueles flashes. Só depois pode fazer o seu trabalho de distribuir os presentes. Mas este ano as coisas foram diferentes.

Em Agosto voltou o corrupio de telefonemas e a chuva de obrigações contratuais. O Pai Natal tomou então uma decisão. Estou farto! Não aguento mais! Se os accounts me estão sempre a obrigar a fazer isto e aquilo, a partir de agora vou ser account! E assim foi. O Pai Natal pôs a sua indumentária característica de lado, pediu um substituto e foi trabalhar para uma agência de publicidade. E foi feliz (por uns tempos). Telefonava a fornecedores e ordenava entregas a torto e a direito. Escrevia com muitos pontos de exclamação e repetia constantemente a palavra “impactante”. Mas depois descobriu que os criativos não liam os briefings, nem queriam saber dos seus pontos de exclamação, riam-se muito, podiam vestir-se como quisessem e recebiam prémios.

O ex-Pai Natal mexeu então os seus cordelinhos e transformou-se num criativo. Como criativo fartou-se de pensar e dizer disparates e até conseguiu levar alguns avante, mas por vezes uma criatura mais forte e poderosa arruinava-lhe as suas ideias. Criatura essa conhecida por director criativo. Então o ex-Pai Natal decidiu: vou ser director criativo. E transformou-se completamente. Começou a fumar charuto, a gritar com os outros, a lançar olhares mortíferos, a viajar muito e a tomar importantes decisões em esplanadas de hotéis de 5 estrelas. Mas deparou-se com alguém mais forte do que ele, alguém que possuía ainda mais dinheiro, poder e influência: o cliente.

O ex-Pai Natal director criativo meteu uma cunha ao menino Jesus e transformou-se em cliente. Enquanto cliente podia agora chumbar as mais complexas campanhas com os argumentos mais simples e desarmantes: não gosto! Foram tempos felizes, agora o ex-Pai Natal sentia-se todo-poderoso e repetia para si mesmo: eu tenho sempre razão! Oh! Oh! Oh!
Mas algo aconteceu, as vendas do produto que dirigia começaram a cair a pique. Reuniu-se de emergência o conselho de administração e tudo se preparava para despedir o ex-Pai Natal. As vendas do produto é que mandam! - diziam os accionistas.

Então deu-se outra transformação, desta vez desmultiplicada por milhares de unidades: o ex-Pai Natal transformou-se num produto. Administradores, directores criativos, criativos, accounts, milhares de trabalhadores, todos dependiam e trabalhavam para ele, e ele saia todos os dias da linha de produção, de uma fábrica que só existia por sua causa. Era a glória suprema. Chegou então às prateleiras das lojas e foi embrulhado com todos os tipos de papéis, para ser oferecido no Natal que estava quase a chegar. Então surgiu um velhote a andar vagarosamente pelos corredores do hipermercado e começou a pôr todos os produtos dentro de um gigante saco vermelho. Era o Pai Natal agora em funções. E o ex-Pai Natal, agora produto, sentiu na pele (melhor dizendo: no plástico) o poder absoluto da sua ocupação original.

Moral da história: o Clube de Criativos deseja um feliz Natal a todos os presumíveis implicados nesta história.