terça-feira, novembro 15, 2005

Diz-me o que tens no pulso, dir-te-ei o que te vou vender

Nos dias que correm é cada vez mais difícil comunicar com os consumidores de forma generalista. Há demasiados nichos, classes, subgéneros, tribos, franjas de mercado. Um grito na rua tem de ser dado de uma certa forma para atrair os jovens que podem querer consumir água com sabor, mas se se quiser atrair os jovens consumidores de vodka o grito irá requerer uma entoação completamente diferente. Dentro desse grupo de jovens, haverá aqueles que votam na direita, os que votam na esquerda e os que não votam, escolhas que os especialistas conseguem traduzir em tendências de consumo. Haverá aqueles que vestem Diesel, os que vestem Zara e os que se despem assim que o álcool começa a fazer efeito. Como distinguir as nuances entre estes públicos aparentemente tão semelhantes, mas que na realidade respondem a estímulos completamente diferentes? Talvez se um marketeer mais arrojado os marcasse como gado para direccionar cirurgicamente futuras campanhas. Mas esperem, essa marcação já existe! Segundo o politico inglês David Davis, estamos a assistir à sublevação da “geração pulseira”, Davis, que luta pela liderança do partido conservador inglês, pretende conquistar para as suas fileiras os jovens que usam a pulseira “Make Poverty History”, mas também aqueles que usam a pulseira da Nike contra o racismo e ainda os jovens estudantes que ostentam a lista azul anti-violência no braço. Quem ostenta um ideal no pulso, mesmo que seja maioritariamente por razões estilísticas, é um consumidor com opiniões definidas e as marcas gostam dessas pessoas. Sim, os estudos morrem quando esbatem nas pessoas NS / NR (Não Sabe, Não Responde).
O mercado nunca dorme e não seria de estranhar se já existissem bases de dados baseadas naquilo que as pessoas trazem nos pulsos. Tem a pulseira Livestrong, do ciclista Lance Armstrong e da sua fundação para apoiar as vítimas do Cancro? Então temos aqui uns folhetos farmacêuticos para si. Tem a pulseira do SOS Racismo? E se nos desse um donativo para ajudar as famílias carenciadas da comunidade cigana? Nunca os pulsos falaram tanto, já não se trata simplesmente de identificar um consumidor pelo seu Rolex Casio ou Swatch, agora as pessoas trazem causas consigo. Por falar na marca suíça: Tem um Swatch Ursinhos? Pode então, com certeza, assinar esta petição para simplificar o processo de adopção de crianças? As causas estão instaladas, e elas não param de surgir sob a forma de pulseiras de borracha. Até os clubes de futebol originaram a sua causa, eles próprios, e um dos tablóides portugueses, à falta de uma causa específica, lançou pulseiras de todas as cores. Lembram-se da fita do Nosso Senhor do Bonfim? Paz à sua alma.

2 comentários:

Anónimo disse...

Os meus parabéns ao redactor deste texto.

Sun

Z disse...

Muito bom o texto.

E ainda há aquela fita do Sudoeste... ;)